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MINHA MENSAGEM AOS HOMENS QUE FAZEM GUERRAS...

Minha mensagem aos homens de guerra, homens que fomentam a guerra, que armam a guerra, homens que matam e morrem por uma guerra, saibam vocês: POBRES SOIS VÓS!

 

QUANDO A FOTOGRAFIA MEXEU COM MINHA VIDA... 

A  Exposição de fotografias feitas em Angola pelo fotógrafo FÁBIO MARCONI, foi um divisor em minha vida.

Ali eu vi não o sangue, mas a poeira da guerra angolana, os destroços que a guerra deixou pra trás. Vi casas destruídas por balas e bombas, vi as cidades em cor-cinza, vi irmãos, muitos irmãos mutilados...

Eu não compreendia plenamente o que era aquilo. Passei estes anos todos, mais de 30, avessa a noticiários de minha terra. Não queria ver nem ouvir... Era como se eu quisesse ficar trancada numa redoma de vidro escuro e não lembrar sequer. Porque lembrar significava sofrer.

 

Quando fui visitar a exposição, fui acreditando que estariam ali expostas fotos das belezas de minha tão doce terra.

Mas não, aquela exposição de fotos arrebentou meu coração, chegou ao limite suportável para mim, de horror... Ouvi naquele pequeno espaço, o som de bombardeiros, o estrondo de bombas, de minas, ouvi os gritos de socorro de tantas mulheres angolanas como eu, mas que não tiveram a mesma sorte de terem saído antes do ”pipocar” da guerra, senti naquele momento o cheiro de pólvora, de sangue, de lágrimas...

 

Sim! Meu rosto já se encharcava de lágrimas... Que dor! Senti-me irremediavelmente ferida, dilacerada, sangrando, senti uma cólica muito forte, como se aquela menina que ainda habitava em mim e não queria ter esse passado, estivesse sendo abortada... Ali, a frio, em pleno Shopping Center.

 

Chegaram a me entrevistar, mas meus olhos rasos d’água disseram: - Não tenho palavras... Enquanto meus lábios balbuciavam algo meio sem nexo embrulhado em muita emoção.

 

É muito difícil viver com as lembranças do sofrimento. Mais difícil ainda é ver estampado em fotografias, fatias eternas dessa dor, pedaços do que nos restou! Porque quando estamos vivendo aquilo, as imagens se sucedem, vão se transpondo umas  às outras, umas piores, outras nem tanto e uma ajuda a outra, mas nas fotografias não, elas ficam eternizadas, provando sua existência e provocando todas as suas dores e nuances, querendo nos forçar a ressuscitar esperanças...

 

Quantos sonhos sucumbiram naqueles estouros... Quantas vidas deixaram de acontecer... Quantas histórias nunca serão contadas... Quantas fotografias, retratos de tantas alegrias, viagens pelo deserto, festas, foram queimadas, perdidas, largadas pra trás em detrimento da vida. Quantos anos ainda vou ter que esperar pra conseguir tirar esse nó da garganta???

 

“Naquele dia 10 de janeiro de 75, o vento soprava mais forte,

levando consigo a areia fina do meu deserto...

e junto, os meus sonhos.

Uma areia que vai e não volta jamais.

É quando se fecham os olhos,

Se cerram os punhos,

Quando caiem as lágrimas

e se fecham as cortinas.”

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